Victoria
saiu correndo de sua sala e no caminho encontrou Antônio, que deixou as
crianças na casa paroquial e foi ajudar Luciano. Victória pediu para que Moises
ficasse com André enquanto ela corria para onde estavam Paulo e Luciano. O
coração dela estava tão disparado que não sabia dizer se era por estar correndo
ou por ter visto Luciano cair de repente. Antônio, atrás dela, tentava entender
o que ela falava enquanto corria. Quando escutou o nome de Luciano, entendeu o
motivo do olhar de medo em seu rosto.
Quando
saíram do prédio foram surpreendidos com a forte fumaça. Estava tão densa que
eles tiveram dificuldades para enxergar, seus olhos logo ficaram irritados.
Victoria se irritou por não ter trazido seus óculos, mas agora não tinha tempo
de pensar nisso. Queria entender o que estava acontecendo e o motivo de Paulo
estar envolvido.
Quando
chegaram perto do portão, Luciano estava inconsciente sem respirar direito.
Victoria mal deu ouvidos a Paulo. Chegou perto e sentou-se no chão colocando a
cabeça de Luciano em seu colo.
- Lu... Lu por favor, sou eu, Victoria.
Por favor. Acorda. – Victoria estava passando a mão no rosto dele, lacrimejando.
Antônio estava segurando, dentro de seu bolso uma cruz. Isso fez com que Paulo
se calasse.
- Victoria, temos que levá-lo para
dentro, rápido. – Antônio falou para ela com a mão no seu ombro.
- Ele... Não vai acordar.
- O que você disse? – Victoria perguntou
assustada.
- A menos que eu queira.
- Paulo...
- Ah... Olhe de novo queridinha... Não é
o Paulo. Sabe... Você sempre foi muito previsível, apesar de lhe dar os
parabéns em relação ao batizado. Aquele velho doente foi esperto. Aumentou seus
poderes e diminuiu os meus. Mas ele... Bem, diante da natureza do que ele é...
Foi fácil.
- Malak? – Victoria não estava prestando
muita atenção ao que estava acontecendo.
- “Unchanted”.
- Mas o que... – Victoria estava
perdida. Olhando para Antônio em busca de respostas que deu de ombros
- Estava reparando você nesses dias.
Aquele babaca que mandei para aquele aluno.... Um idiota. Afinal de contas, é
como falam.... Se você quiser uma coisa bem-feita, faça você mesmo, não é? Eu o
mandei porque precisava fazer com que ele saísse de perto de você. Esse poder
que emana de vocês quando estão juntos é..... Perturbador. Estava me cansando então
resolvi reaparecer. Depois do nosso último encontro, que foi um desastre, pelo
menos para mim, eu precisei de tempo para me reerguer.
- Padre, leve o Luciano para longe sim.
Para a enfermaria. Faça com que a enfermeira dê uma olhada nele.
- Mas e você?
- Eu vou ficar aqui. – Victoria estava
com seu terço em mãos.
- Isso não vai adiantar.
- Veremos. –
Victoria estava tentando controlar a raiva que estava sentindo.
Victoria
esperou que Antônio levasse Luciano com certa dificuldade para longe de Paulo.
Agora fazia sentido o mal-estar que ela sentia todas as vezes que ficava perto
de Paulo. Não era bem Paulo e sim a influência de Malak nele. Droga, o que ela
poderia fazer e que não machucasse o professor? O que Malak queria afinal de
contas?
- Já parou de pensar tanto? Seu problema
é que você pensa demais.
- Eu só tenho um? – Victoria falou com
um esboço de sorriso.
- É.... a sua mãe também era irritante
assim. – Malak tentava tirá-la do sério e Victoria sabia disso. Mas ela vinha
treinando esse tipo de coisa. Mesmo com a raiva surgindo na boca de seu estômago,
respirou fundo e continuou sorrindo para Malak.
- É... Mamãe sempre falava que esse meu
sorriso irritava mesmo. Mas, o que você quer? Por que... Se vai atacar, ataque
logo, você está me fazendo perder tempo eu tenho que ver como o Lu...
- Ai... Como pessoas apaixonadas são
irritantes. Não, hoje eu não vim aqui por você. Hoje... Vim atrás dele. – Malak
falou com um aceno de cabeça no prédio.
- Luciano? O
que você quer com o Luciano? Deixe ele em paz, demônio. – Victoria estava a
ponto de perder a calma, ela sabia que isso não era um bom sinal, mas ela não
estava mais conseguindo se controlar.
Malak
ficou olhando por um tempo para Victoria. O brilho ao redor dela estava mais
forte, mais ofuscante. Deixava-o longe, e queimava o que seriam os olhos.
Definitivamente, Victoria aprendera melhor o que eram seus poderes. E aquela
aura azul ao redor dela... Sinal de que ela estava mais aberta para o amor. O
amor de Luciano. Ele deveria ter destruído o rapaz no casamento, quando teve
uma oportunidade de ouro. Agora era tarde. Ele teria que resolver de outra
forma. Tentara afetar Victoria com a memória da mãe, mas, apesar de sentir uma
enorme raiva dentro de sua inimiga, ela não agira da forma que ele supôs. Ela
estava mais forte. Luciano havia se tornado a melhor forma de afeta-la, mas
Malak ainda não estava forte o suficiente para enfrentar algo tão forte quanto
o amor puro.
- Aproveite o tempo que você tem com
ele. – Malak falou sério. De alguma forma o aviso dele fez o corpo de Victoria
todo se arrepiar.
- Do que você está falando, demônio?
- Ah... Sinto falta desses apelidos
carinhosos. Ainda mais quando você me chama assim, tão lindamente irritada.
- Ande, fale logo! – Victoria agora
começou a recitar cânticos baixos. Cânticos novos.
- Não é necessário isso, minha querida.
Vim lhe dar um aviso. Ele... É meu. A alma dele é minha.
- O... QUE? Você só pode estar
brincando. Ele foi batizado também.
- A alma dele sempre foi minha, minha
querida. Desde a concepção. Culpa do pai dele. Agora talvez esteja um pouco
mais difícil leva-lo, mas ele sempre foi meu.
- Como é? – Nessa Hora, Victoria vê
André se aproximando. Ele estava ainda um pouco fraco, mas aguentando firme,
mas ele não era a melhor companhia para ela neste momento.
- Olha... O outro homem da sua vida... –
Malak olhou para André profundamente. – Antes de eu ir embora me responda como
é a sensação de perder os dois homens que você mais ama? – Depois de perguntar
Malak sumiu em uma fumaça preta que cheirava a enxofre. Com ele, a densa fumaça
que cobria a cidade logo se dissipou. Assim que Malak sumiu, o corpo de Paulo
caiu no chão.
- O que ele falou para você? – André
perguntou quando chegou perto dela.
- Nada. Venha,
você tem que voltar a descansar e eu tenho que ver como está Luciano.
Victoria
não contou a André a pergunta de Malak. Ela sabia que se contasse ele se
preocuparia, e preocupações eram coisas que ele não precisava. E também, ela
não queria conversar muito para não deixar transparecer o medo que ela estava
sentindo. Aquilo era uma confirmação de que André além de ter se tornado
importante para ela, algo que ela vinha lutando para que não acontecesse, logo
morreria.
A
possibilidade de ver André morrendo não estavam nos planos de Victoria. Não
ainda. Além de tudo isso, ainda havia Luciano. Por que afinal, Malak havia dito
que a alma sempre fora dele e que a culpa disso era do Ricardo? Afinal de
contas, qual era o grande segredo que a mãe de Luciano sempre guardou para si?
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