A
fumaça cobria a cidade rapidamente, e Luciano e Antônio lutam para conseguir
abrigar o máximo de alunos que eles conseguiam encontrar. Os alunos e os outros
professores foram levados para a igreja. Alguns sobre protesto. Coisa que
Luciano estava sem paciência para explicar. Apenas saía puxando para dentro.
Enquanto Antônio selava a igreja com cânticos e tônicos de Luciano.
A
fumaça era tóxica, causava falta de ar e ardência nos olhos. Os professores se
protegiam como podiam. Luciano pôs um lenço em seu rosto, mas seus olhos
estavam ficando fechados de tão vermelhos e ardidos. Logo ele estava sem poder
ajudar muito. Antônio o puxou para dentro da igreja. Mas ele estava preocupado
com os alunos que estavam na cantina. Ele sabia que alguns iriam parar na
enfermaria.
- Que fumaça
horrível! – Um dos professores falou. Ele estava abraçando alguns alunos mais
novos. Luciano pediu para que todos ficassem lá que estariam protegidos. Olhou
para Antônio. Pela troca de olhares, Antônio sabia que Luciano iria atrás de
Victoria. Mas o melhor a se fazer era esperar que a fumaça diminuísse.
Enquanto
Victoria esperava algo mais concreto de Malak, ela evitava olhar para André,
que ainda estava deitado no sofá. Ela sentia seu olhar sob suas costas e
procurava desesperada alguma coisa para falar, mas era tudo em vão. Ela só
fazia suspirar. Por que essas coisas todas estavam acontecendo? Por que ela não conseguia mais falar com ele? E por que o coração dela estava tão disparado
assim?
- Droga! – Ela falou dando um murro na
janela. O barulho fez André se mexer. – Desculpe. Mas ficar aqui é frustrante.
- Não se preocupe. Você está fazendo o que
sua mãe faria.
- Me acovardar?
- Não. Não tomar nenhuma atitude
precipitada. Afinal de contas, você ainda não sabe qual será o próximo
movimento dele.
- Creio que ele esteja tentando deixar
todos doentes.
- É... Possível! – André falou em meio a
outro ataque de dor. Victoria o viu se encolher todo segurando forte a barriga.
- Você não está bem.
- Não se preocupe comigo. O que está
pensando em fazer agora? Essa fumaça parece ser perigosa.
- Sim, creio que sim. Vi alguns alunos
indo para enfermaria. A maioria está na igreja com Luciano e Antônio. Me
preocupa mais os que estão na cantina.
- Mas lá é coberto e fechado, não é?
- Sim, é sim. Mas as crianças estão com
Paulo. Alguma coisa nele me incomoda. Não gostaria de deixar as crianças
sozinhas com ele.
- Você quer ir ver como elas estão?
- Mas... E você?
- Vá lá. Não
sairei daqui.
Victoria
estava quase fechando a porta quando ainda olhou para André, agora de olhos
fechados gemendo baixo de dor. Pela primeira vez, Victoria sentiu medo. Um medo
de que ela nunca mais fosse vê-lo. Balançou a cabeça, fechou a porta e correu
para a cantina.
As
crianças estavam sentadas todas num canto somente, com olhos amedrontados sem
saber o que estava acontecendo. E, aparentemente, estavam sozinhas. Isso a
irritou. Onde estava Paulo?
- João? Onde está o professor que estava
com vocês?
- Ele foi embora assim que nos deixou
aqui professora. Não sabíamos o que fazer. – Ele falou com lágrimas nos olhos a
abraçando forte. – Será que nossos pais estão bem?
- Não se
preocupe sim! Seus pais estão bem sim. Agora quero que vocês todos venham
comigo, tudo bem? Vou levar vocês para um local mais calmo. Que tal o
laboratório? Com a professora de artes? – Assim que Victoria terminou os alunos
se animaram mais um pouco. Eles adoravam passar um tempo com a professora Dora.
Assim
que deixou todos os alunos no laboratório ao lado de sua sala, chamou Dora e
pediu que ela cuidasse dos alunos. Quando a professora perguntou onde estava o
professor Paulo, Victoria avisou que não sabia, mas que assim que o
encontrasse, faria com que ele explicasse porque deixou os alunos sozinhos.
Quando
Victoria abriu a porta de seu escritório, viu que André estava tentando pegar
um vidro de remédio que estava na sua frente. Ela correu e pegou para que ele
não tivesse que se levantar. Ela teria que ter muita paciência com essa
teimosia dele.
- Eu não pedi para que você não se
mexesse? – Ela perguntou fazendo com que André se deitasse novamente.
- Você poderia demorar e a dor está
ficando um pouco forte demais para que eu não fizesse nada. – Ele falou gemendo
baixo.
- Afinal de contas, que remédio é esse?
– Victoria perguntou olhando para o rótulo. Ela olhou para ele. André suspirou.
- Há dois anos essas dores começaram.
Você sabe como é, a gente toma um remédio, passou não nos preocupamos mais.
Porém, as dores voltavam e sempre era mais forte. Então fui ao médico. Fiz
todos os exames. Nos primeiros meses não apareceu nada, mas as dores
continuavam. Depois de seis meses, quando fiz novamente os exames, apareceu um
nódulo e...
- CÂNCER? – Victoria falou assustada. –
Como assim você tem câncer e não me fala nada?
- Estou tentando falar agora.
- E você fala como se estivéssemos
discutindo o tempo em Porto Alegre? – Ela estava mais nervosa que com raiva.
- Temos coisas mais importantes para
lidar do que a doença de um velho moribundo.
- Você não é velho... nem moribundo. –
Victoria falou baixo chegando perto dele.
- Quisera eu que fosse verdade.
- O que posso fazer para você melhorar?
- Ficar viva! – André falou sorrindo.
Pela primeira vez, Victoria quis abraça-lo. Mas não o fez.
- Vamos, tenho que te levar para casa. A
cama é mais confortável.
- Primeiro temos que esperar essa fumaça
passar. Não acho que ela possa fazer bem.
- É. Vem, deixa
eu ajeitar melhor para você ficar mais confortável.
Enquanto
Victoria cuidava de André, não percebeu que, na frente da fumaça, alguém olhava
para a direção de seu escritório. Paulo estava parado, olhando e sorrindo. Era
hora de agir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário