quinta-feira, 19 de maio de 2016

12.

A fumaça cobria a cidade rapidamente, e Luciano e Antônio lutam para conseguir abrigar o máximo de alunos que eles conseguiam encontrar. Os alunos e os outros professores foram levados para a igreja. Alguns sobre protesto. Coisa que Luciano estava sem paciência para explicar. Apenas saía puxando para dentro. Enquanto Antônio selava a igreja com cânticos e tônicos de Luciano.

A fumaça era tóxica, causava falta de ar e ardência nos olhos. Os professores se protegiam como podiam. Luciano pôs um lenço em seu rosto, mas seus olhos estavam ficando fechados de tão vermelhos e ardidos. Logo ele estava sem poder ajudar muito. Antônio o puxou para dentro da igreja. Mas ele estava preocupado com os alunos que estavam na cantina. Ele sabia que alguns iriam parar na enfermaria.

- Que fumaça horrível! – Um dos professores falou. Ele estava abraçando alguns alunos mais novos. Luciano pediu para que todos ficassem lá que estariam protegidos. Olhou para Antônio. Pela troca de olhares, Antônio sabia que Luciano iria atrás de Victoria. Mas o melhor a se fazer era esperar que a fumaça diminuísse.

Enquanto Victoria esperava algo mais concreto de Malak, ela evitava olhar para André, que ainda estava deitado no sofá. Ela sentia seu olhar sob suas costas e procurava desesperada alguma coisa para falar, mas era tudo em vão. Ela só fazia suspirar. Por que essas coisas todas estavam acontecendo? Por que ela não conseguia mais falar com ele? E por que o coração dela estava tão disparado assim?

- Droga! – Ela falou dando um murro na janela. O barulho fez André se mexer. – Desculpe. Mas ficar aqui é frustrante.
- Não se preocupe. Você está fazendo o que sua mãe faria.
- Me acovardar?
- Não. Não tomar nenhuma atitude precipitada. Afinal de contas, você ainda não sabe qual será o próximo movimento dele.
- Creio que ele esteja tentando deixar todos doentes.
- É... Possível! – André falou em meio a outro ataque de dor. Victoria o viu se encolher todo segurando forte a barriga.
- Você não está bem.
- Não se preocupe comigo. O que está pensando em fazer agora? Essa fumaça parece ser perigosa.
- Sim, creio que sim. Vi alguns alunos indo para enfermaria. A maioria está na igreja com Luciano e Antônio. Me preocupa mais os que estão na cantina.
- Mas lá é coberto e fechado, não é?
- Sim, é sim. Mas as crianças estão com Paulo. Alguma coisa nele me incomoda. Não gostaria de deixar as crianças sozinhas com ele.
- Você quer ir ver como elas estão?
- Mas... E você?
- Vá lá. Não sairei daqui.

Victoria estava quase fechando a porta quando ainda olhou para André, agora de olhos fechados gemendo baixo de dor. Pela primeira vez, Victoria sentiu medo. Um medo de que ela nunca mais fosse vê-lo. Balançou a cabeça, fechou a porta e correu para a cantina.

As crianças estavam sentadas todas num canto somente, com olhos amedrontados sem saber o que estava acontecendo. E, aparentemente, estavam sozinhas. Isso a irritou. Onde estava Paulo?

- João? Onde está o professor que estava com vocês?
- Ele foi embora assim que nos deixou aqui professora. Não sabíamos o que fazer. – Ele falou com lágrimas nos olhos a abraçando forte. – Será que nossos pais estão bem?
- Não se preocupe sim! Seus pais estão bem sim. Agora quero que vocês todos venham comigo, tudo bem? Vou levar vocês para um local mais calmo. Que tal o laboratório? Com a professora de artes? – Assim que Victoria terminou os alunos se animaram mais um pouco. Eles adoravam passar um tempo com a professora Dora.

Assim que deixou todos os alunos no laboratório ao lado de sua sala, chamou Dora e pediu que ela cuidasse dos alunos. Quando a professora perguntou onde estava o professor Paulo, Victoria avisou que não sabia, mas que assim que o encontrasse, faria com que ele explicasse porque deixou os alunos sozinhos.

Quando Victoria abriu a porta de seu escritório, viu que André estava tentando pegar um vidro de remédio que estava na sua frente. Ela correu e pegou para que ele não tivesse que se levantar. Ela teria que ter muita paciência com essa teimosia dele.

- Eu não pedi para que você não se mexesse? – Ela perguntou fazendo com que André se deitasse novamente.
- Você poderia demorar e a dor está ficando um pouco forte demais para que eu não fizesse nada. – Ele falou gemendo baixo.
- Afinal de contas, que remédio é esse? – Victoria perguntou olhando para o rótulo. Ela olhou para ele. André suspirou.
- Há dois anos essas dores começaram. Você sabe como é, a gente toma um remédio, passou não nos preocupamos mais. Porém, as dores voltavam e sempre era mais forte. Então fui ao médico. Fiz todos os exames. Nos primeiros meses não apareceu nada, mas as dores continuavam. Depois de seis meses, quando fiz novamente os exames, apareceu um nódulo e...
- CÂNCER? – Victoria falou assustada. – Como assim você tem câncer e não me fala nada?
- Estou tentando falar agora.
- E você fala como se estivéssemos discutindo o tempo em Porto Alegre? – Ela estava mais nervosa que com raiva.
- Temos coisas mais importantes para lidar do que a doença de um velho moribundo.
- Você não é velho... nem moribundo. – Victoria falou baixo chegando perto dele.
- Quisera eu que fosse verdade.
- O que posso fazer para você melhorar?
- Ficar viva! – André falou sorrindo. Pela primeira vez, Victoria quis abraça-lo. Mas não o fez.
- Vamos, tenho que te levar para casa. A cama é mais confortável.
- Primeiro temos que esperar essa fumaça passar. Não acho que ela possa fazer bem.
- É. Vem, deixa eu ajeitar melhor para você ficar mais confortável.

Enquanto Victoria cuidava de André, não percebeu que, na frente da fumaça, alguém olhava para a direção de seu escritório. Paulo estava parado, olhando e sorrindo. Era hora de agir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Anteriormente...

1.

A noite estava calma. Estranho em uma cidade como Manaus. Àquela hora, a cidade deveria estar viva, e não tudo calmo daquela forma. V...